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Comissão Pastoral da Terra é homenageada em Festival de Cinema da Unifesspa

  • Publicado: Sábado, 13 de Abril de 2019, 17h42
  • Última atualização em Sábado, 13 de Abril de 2019, 18h00

 

Cinefront 2019 abertura 04 

Símbolo de organização, luta e resistência no país, a Comissão Pastoral da Terra é homenageada pelo Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira (FIA Cinefront) que começou ontem, 12 de abril de 2019, em Marabá.
O festival está em sua quinta edição, organizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (Proex) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que em parceria com diversos movimentos sociais e outras instituições, oferta sessões gratuitas de cinema no período de 12 a 20 de abril, em memória à Semana Camponesa de luta pela terra. Por isso, as obras de audiovisual apresentadas no Cinefront refletem denúncias e a realidade da região em que a Unifesspa está.
Presente na região desde 1975, a Comissão Pastoral da Terra nasce vinculada à Igreja Católica em plena ditatura militar, como resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições análogas ao trabalho escravo e expulsos das terras que ocupavam.
Nestes mais de 40 anos na região, a CPT se utilizou de vários mecanismos para denúncias e estratégias para dar suporte ao homem e à mulher do campo, como o cinema. “Todos os anos homenageamos personalidades do cinema que tenham feito trabalhos relevantes sobre a Amazônia e regiões de fronteira. Esse ano, a escolha pela Comissão Pastoral da Terra se deu pela quantidade de pessoas ligadas à entidade que desenvolveram trabalhos de apoio, formação e luta pela terra e que se utilizaram dessa linguagem como arma de expressão das lutas sociais na Amazônia”, disse Evaldo Gomes Júnior, diretor na Proex e responsável pelo evento.
“A CPT nasceu para ser uma entidade a serviço e prestar assessoria para a luta dos camponeses pela conquista e permanência na terra. Deu contribuição importante à organização dos trabalhadores e contribuiu na transformação da região como uma das que tem maior número de assentamentos e continua ao lado dos trabalhadores prestando assessoria para contribuir com suas lutas e defesas de seus direitos”, destacou José Batista, advogado da CPT em Marabá.
“A fronteira não é algo que existe só na nossa região. São fundamentalmente humanas e acabam envolvendo aspectos muito particulares da forma como você incorpora o espaço e os recursos naturais aos processos de produção capitalistas. Hoje temos nesse processo de incorporação marcada pela expropriação de povos, territórios, que envolve violência, tentativas de negação da cultura. Esse festival é um espaço para disputar as narrativas desse processo através do cinema e principalmente mostrar que a história não é natural”, ressaltou o professor Maurílio Monteiro, reitor da Unifesspa.

Filmes
Na abertura do Cinefront, os filmes apresentados destacaram tanto a realidade da região quanto a luta e o apoio da CPT nas questões que envolvem o direito à posse da terra, direito de nela permanecer e trabalhar, direito de acesso à água, direito ao trabalho e este em condições dignas.
“Há alguns anos atrás, essa universidade decidiu fazer uma programação em memória ao Massacre em Eldorado Carajás, a Semana Camponesa. Umas das atividades para essa semana foi o Cinefront. Deu certo e a semana tornou-se a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) que acontece por todo país e esse festival de cinema que está em sua quinta edição”, destacou Amintas Lopes Júnior, membro da curadoria e um dos idealizadores do festival.
O primeiro filme exibido foi “Bandeiras Verdes”, de Murilo Santos. Filme etnográfico de 1987 retrata a região interiorana do estado do Maranhão, denominada pré-amazônica, abordando aspectos fundiários e migratórios nas relações campesinas coma prática da agricultura de subsistência e a expulsão destes das terras em que se estabelecem, em decorrência da grilagem.
Em seguida, o documentário “Manu: essa história não é minha só” mostra Emmanuel Wambergue, o agrônomo e ativista francês que chegou à região justamente na conjuntura que deu início à Comissão Pastoral da Terra e que contribuiu com esta pastoral, em sua fundação, no apoio aos campesinos do Sul e Sudeste do Pará. Manu, como é conhecido, há quatro décadas segue lutando pela preservação da floresta e pelos direitos humanos na Amazônia.
Outra personagem importante à CPT, Henri Burin des Roziers, também tem sua história de apoio ao povo do campo retratada no documentário “A Lenda da Terra Dourada”, de Stéphane Brasey. A obra apresenta as diversas facetas da luta pela terra: trabalhadores rurais submetidos a condições análogas ao trabalho escravos, o poder público movido por denúncias feitas pela CPT entre outros movimentos sociais e fazendeiros de gado da região.

Cinefront 2019 abertura 01

Homenagens
Para representar a Comissão Pastoral da Terra, estiveram presentes na abertura do Cinefront o advogado José Batista Afonso, da CPT Marabá e o agrônomo e ativista Emmanuel Wambergue. Em conversa com um dos membros da curadoria do Cinefront, Amintas Lopes Júnior, relembraram marcos na história da entidade e nas lutas sociais.
Manu contou aos presentes no Cine Marrocos sobre sua chegada ao Brasil e do interesse que já havia entre padre da região na mobilização para organização dos trabalhadores do campo. “Essa história não é só minha porque tive a sorte de chegar justamente quando tudo estava convergindo para o que se tornou hoje esse movimento do campesinato aqui. Cheguei na década de 70, em meio à ditatura militar, com a presença do Curió e com a repressão a organizações políticas”, contou Manu.
Cinefront 2019 abertura 02“Trabalhávamos com as comunidades eclesiais de base. Onde se tinha mais de 10 pessoas, se criava uma igreja, que já servia de escola depois. Começava a discussão do trabalho a partir da reza – rezava-se um pouco e discutia-se muito. Um dia alguém chegou e disse: “moramos no centro e está aparecendo uns caras lá dizendo que tem título da terra e que devemos sair. Por isso, a ideia era principalmente relatar e ver todos os casos de problema de terra que podiam aparecer, fazer reclames em jornais sobre essas questões aqui e em outras regiões do país. No fim das contas, já estávamos prevendo que ia acontecer muita coisa” lembrou o ativista.
Batista, advogado da CPT, lembrou dos diversos atores dessas lutas sociais, como Paulo Fonteles, Dorothy Stang, Frei Henri, entre outros. Foi o frei quem o convenceu a ficar a trabalhar na entidade à época do Massacre em Eldorados dos Carajás. “Chegamos à Curva do S e tinham manchas de sangues no asfalto, famílias procurando seus parentes. Seguimos o cortejo dos corpos e passamos a noite no velório em Curionópolis. Logo depois, eu já me integrei à equipe de Marabá”, falou Batista.
Ele também ressaltou a preocupação da CPT na organização dos trabalhadores. “Os sindicatos estavam na mão de militares, os partidos sem liberdade; a igreja era local de abrigo. Nesse aspecto, havia um comprometimento com os pobres bem definida e uma linha na teologia da libertação, onde os camponeses encontravam meios de levar suas demandas, as violências a que eram submetidos. A partir das demais demandas, além de equipe jurídica, foram incorporados agrônomos, técnicos agrícolas, e outros profissionais que pudessem contribuir com a comercialização, produção, convivência com floresta, em pensar o modelo de desenvolvimento onde se concilia a agricultura familiar como meio ambiente”, disse o advogado.
Cinefront 2019 abertura 03“Embora tenhamos perdido muitos companheiros, tivemos conquistas. Quantidade de assentamento criados, um contingente de áreas ocupadas muito grande, o enfrentamento da luta pela terra, mas isso é uma etapa, um processo que nos traz outros desafios principalmente com as mudanças conjunturais. Mas a luta segue, outros Henris, outras Dorothys, outros Paulo Fonteles, vão surgindo por aí”, destacou Batista
Uma placa destacando a presteza dos trabalhos oferecidos pela CPT e por Emmanuel Wambergue foram entregues pela professora Margarida Negreiros e pelo reitor da Unifesspa, professor Maurílio Monteiro.
“Digo com muita alegria que essa fronteira é de resistência e há muita justeza nessa homenagem à CPT, entidade fundamental na resistência e denúncia de como essa fronteira tem sido incorporada”, disse o reitor.
A Unifesspa tem longa parceria com a CPT e os movimentos e entidades sociais da região. Batista, em sua fala final, destacou uma das ações de extensão. “A digitalização e preservação do banco de dados sobre questões agrárias e fundiárias da CPT, que possibilitou a construção de diversos documentários e pesquisas, é um dos objetos de parceria com a Unifesspa. Estamos com o trabalho bem avançado em Xinguara e iniciando aqui em Marabá. Esperamos que essa ação possibilite pesquisas e obras cinematográficas que denunciem as questões sociais na região”, finalizou Batista.
“Hoje, aposentado, sou zelador de toda essa história de lutas que nunca parou. Vimos diversos ciclos: borracha, castanha, mas é o campesinato que persiste. Somos 50% de área ocupada por campesinos. Só Eldorado tem 70% ocupada. Não podemos nos abater, mesmo que espaços, como o Incra, tenham sido fechados; que só esse ano, 5 assassinatos. O futuro é árduo, mas asseguro que é a teimosia e a ousadia que nos fez chegar até aqui e o campesinato veio para ficar na região”, concluiu Manu.
“É fundamental perceber que a forma como nós vamos conviver e reproduzir como sociedade é um conjunto de possibilidades em aberto. E ao homenagear entidades que mostram formas de como o homem pode conviver com o meio ambiente e construir uma sociedade mais justa e fraterna é fundamental”, disse Maurílio Monteiro.

Programação do Cinefront
As sessões e debate sobre as obras seguem até o dia 18 em Marabá e nas outras cidades em que a Unifesspa tem campus instalado e no Acampamento da Juventude Sem Terra, na Curva do ‘S’. O Festival também terá programação nas cidades de Araguaína (TO), Porto Grande (AP), Imperatriz (MA). Em Lima (Peru), a programação na Pontificia Universidad Católica será de 10 a 12 de abril com as seguintes obras: Amazônia, masato e petróleo (Produção: Lliga dels drets dels pobles), El verdadero Avatar (Direção: David Suzuki) e La espera, historias del Baguazo (Direção: Fernando Vílchez Rodríguez).
Confira os 14 filmes que serão exibidos na programação do Brasil:
“A Lenda da Terra Dourada”. Ano: 2007. Duração: 55 min. Direção: Stéphane Brasey
"Anel de Tucum". Ano: 1994. Duração 1 h 09 min. Direção: Conrado Berning.
“Ararandeua”. Ano: 2018. Duração: 25 min. Direção: Ricardo d'Almeida
“As hiper mulheres”. Ano: 2011. Duração: 01 h 20 min. Direção: Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro.
“Bandeiras Verdes”. Ano: 1987. Duração 30 min. Direção: Murilo Santos
“Conservadorismo em Foco – Um filme sobre a ideologia burguesa”. Ano: 2018. Duração: 01 h 11 min. Direção: Arthur Moura e Felipe Xavier.
"Dezinho: vida, sonho e luta". Ano: 2006. Duração 42 min. Direção: Evandro Medeiros.
“Dois pesos”. Ano: 2017. Duração: 18 min. Direção: Rejane Neves
“Ex-Pajé”. Ano: 2018. Duração: 1h 21min. Direção: Luiz Bolognesi.
“Expedito em Busca de Outros Nortes”. Ano: 2006. Duração: 01 h 15 min. Direção: Aída Marques e Beto Novaes.
“Ferida Amazônica”. Ano: 2018. Duração: 8 min 30 s. Direção: Bruna Soares, Athos Reis, Delma Pompeu, Gabrielly Siqueira, Raphaela Max e Kerollen Paulina.
“Manu: essa história não é minha só”. Ano: 2018. Duração 15 min. Direção: Giovanna Vale.
“Mulheres, Mães e Viúvas da Terra: Sobrevivência da Luta e Esperança de Justiça”. Ano: 2009. Duração 25 min. Direção: Evandro Medeiros.
‘‘Quilombo Rio dos Macacos’’. Ano: 2017. Duração 120 min. Direção: Josias Pires.

Cinefront 2019: faça download da Programação de Bolso

 

Cinefront 2019 abertura 05

 

 

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